sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Pelo Patrimônio Histórico

Ao ver restaurada a Casa de Jorge de Lima senti uma grande satisfação de ter participado de um esforço coletivo que durou de 2002 a 2008. Seis anos!Sim, foi exatamente esse tempo que levou toda a maturação, desenvolvimento e implementação da idéia de seu grande mentor: Dr. Ib Gatto Falção.
Restaurar um imóvel não é fácil, a começar da dificuldade que temos em reconhecer a importância do que é Patrimônio Histórico ou não, e como se não bastasse também a dificuldade de se ter recursos financeiros para fazê-lo.
Grande parte do acervo arquitetônico de Maceió pertence a propriedade particular que, geralmente, não possui condições financeiras para arcar com a recuperação física do prédio. O restauro é caro, pois se trata, na maioria das vezes, da conservação de elementos com técnicas e materiais construtivos que não são utilizados no modelo da construção civil atual. E para esse tipo de conservação também é necessária uma mão de obra especializada, o que quase não existe no nosso mercado.
Venho acompanhando a busca incansável da Arquidiocese para restaurar o prédio da antiga Cúria no Centro, em frente a Estação Ferroviária. Há a intenção de restauro, há projeto desenvolvido, porém também há a falta de recursos, empecilho para qualquer realização.
Hoje, apesar de alguns e exemplos de restauro já realizados na cidade como o da Associação Comercial, do MISA, da antiga Prefeitura, do Museu Théo Brandão e agora da Casa de Jorge de Lima, ainda buscamos a restauração de uma série de obras, não só pela condição física precária, mas para garantir um funcionamento digno, e o que é mais importante, estimular e despertar a consciência coletiva para a importância da preservação da memória cultural do Estado. A memória como propriedade de conservar informações, graças às quais o homem pode atualizar impressões passadas.
Na verdade é bem interessante a visão que cada indivíduo tem do imóvel. É nesse olhar particular que há um despertar baseado na experiência individual de cada um e que lhe atribui uma serie de valores. Daí a pluralidade de significados, pois cada pessoa que olha, vê e interpreta algo diferente; a obra de restauro como arte trás em si essa polêmica: não está na sua função a sua característica maior, mas nos valores carregados por essa imagem coletiva.
É assim, com o reconhecimento popular, que avaliamos o edifício como parte da cidade, o qual, de alguma forma, conta a história de nosso povo. Em verdade a imagem coletiva pode ser trabalhada de duas formas; a primeira quanto damos um valor estético ao edifício que mostra um modelo de arquitetura singular ou de referência; a segunda por se tratar apenas de uma referência histórica (como por exemplo, uma casa que não tem valor arquitetônico, mas foi onde morou uma figura ilustre).
Incompreendido por muitos, o Patrimônio Histórico ainda não alcançou seu verdadeiro patamar de importância, pois ainda presencio as dificuldades que os órgãos como o IPHAN-Al, a Secretaria de Cultura do Estado com o Pró memória, e a Secretaria de Planejamento do Município – setor de preservação, enfrentam todos os dias. A dificuldade aumenta com as condições precárias de fiscalização e enfatiza-se com a ignorância cultural de parte da sociedade. Quantas vezes ouvi alguns falarem: “...esse monte de prédio velho, sem valor, é melhor derrubar tudo e fazer tudo novinho”.
Pois bem, na restauração da casa de Jorge de Lima, ao ver o resultado das prospecções de reboco também aprendi um pouco mais sobre a arquitetura local e muito mais sobre a personalidade do poeta. O reboco interno era foi feito com saibro e areia, mas o reboco externo de toda a casa incluiu o cimento, fato que não era nem um pouco comum para as casas da época, pois além de caro, o cimento dava um melhor acabamento e mais rigidez ao material; ou seja, o poeta não economizou e utilizou-se de uma técnica avançada para a cidade, assim como a inclusão de elementos arquitetônicos de vanguarda. Podemos deduzir e reforçar a idéia de busca de coisas novas que o poeta tinha, assim como a necessidade de ser universal e não se mostrar característico de um lugar.
No final do ano passado, a Secretaria Municipal de Planejamento, através do seu Setor de Patrimônio Histórico, realizou uma palestra organizada pela Arquiteta Adeciany Souza e da querida Professora e Doutora Josemere Ferrari, intitulada “Para o Bem do Patrimônio Histórico”. Para tal palestra foram convidadas todas as instituições do Centro, técnicos municipais, arquitetos, assim como comerciantes/lojistas que hoje ocupam grande parte do acervo arquitetônico daquele bairro. Inúmeros convites foram distribuídos e confirmados e para nossa grande surpresa, além dos técnicos e instituições, apenas dois lojistas apareceram. Esse é o retrato da falta de interesse e do descaso com o tema.
Existe também uma visão errônea de que um imóvel considerado Patrimônio Histórico é um imóvel paralisado no tempo e que não será possível qualquer mudança. Essa é uma visão ainda comum para a grande maioria de proprietários, porém pode e deve ser mudada. Em primeiro lugar é importante enfatizar que esse tipo de edificação é singular, com personalidade e característica única. Esse é o diferencial, principalmente para quem deseja utilizar o imóvel com proposta comercial. Até por uma questão de marketing, o diferencial é a essência do serviço ou do produto.
Existem leis específicas para bairros e bens tombados como o Centro e Jaraguá, mas que permitem a utilização para uma série de usos, pois, nós que trabalhamos com esse Patrimônio, temos a maior satisfação quando há a possibilidade de ocupação ou até mesmo de renovação de uso, porém conservando as características relevantes.
Algumas vezes não se faz necessário um restauro propriamente dito, mas sim pequenas reformas como um conserto de telhado, pintura ou até mesmo recomposição de rebocos ou pisos. Esse tipo de iniciativa também ajuda a melhorar o estado de conservação do imóvel.
Na realidade, a grande vilã para destruição dos imóveis sempre será a água; seja aquela que entra pelo telhado em mau estado de conservação, seja por vazamentos de tubulações antigas, sejam tubulações de descida de água pluvial entupidas, ou mesmo por umidade ascendente nas paredes (o que é muito comum). A utilização do imóvel exigirá um grau mínimo de conservação para que esse tipo de fato não ocorra.
Patrimônio também quer dizer riqueza e essa riqueza histórica precisa ser despertada nos proprietários. Como exemplo temos o Ministério da Cultura que criou o Selo da Lei Rouanet como forma de incentivar a restauração do Patrimônio Histórico com incentivos fiscais para empresas que acreditarem e investirem em restauro.
Lembro também que em Maceió há incentivos fiscais com isenção de IPTU de dois, cinco e dez anos para os proprietários que conservar, recuperar ou restaurar, respectivamente, garantido na lei de preservação ao Centro e Jaraguá.
Como Arquiteta Restauradora, e hoje, como Diretora de Planejamento Urbano, fico imaginando inúmeras possibilidades para o Patrimônio Histórico maceioense que é tão rico e farto, porém é difícil falar de valores não palpáveis e aparentemente menos importantes do que outros problemas brasileiros como desigualdade social e financeira de um país novo que ainda está dando os primeiros passos em busca de uma educação digna e que é a base de tudo, inclusive da preservação do Patrimônio Histórico.

Um comentário:

  1. JOSÉ PAZ - IBRATIN RIO29 de março de 2011 às 03:23

    Prezados Senhores,

    Apresentamos em anexo produtos de nossa fabricação especialmente desenvolvidos para restauro de monumentos históricos.

    Colocando-se ao vosso dispor,


    José Paz
    vendas.rj@ibratin.com.br
    dpjl50@gmail.com
    (21) 7570-0667 - (11) 7823-3396
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